Oitavo Tom são peças de caráter penitencial que exibem alguns dos chamados traços arcaizantes presentes em sua obra, como a polifonia vocal, além da intercalação de trechos em cantochão. A última peça sacra é uma composição sobre o texto latino do Magnificat diferente daquela que talvez seja sua música mais conhecida e gravada. Embora os manuscritos muito antigos, com indicação expressa da autoria, sejam conhecidos há muito tempo, estando depositados no Museu da Música Mariana, esta será certamente a primeira audição contemporânea desta obra que, assim como o Gradual e o Ofertório de Quinta-feira Santa, se filia a um estilo tendente ao classicismo europeu, em que Manoel Dias comprova sua plena integração com o espírito de seu tempo, além de um domínio técnico que alcança, com bem poucos recursos, um resultado estético admirável.
          Já a segunda parte deste concerto traz um repertório orquestral eclético, representativo do trabalho de outros compositores também mineiros, salvo uma única exceção, como o grande João de Deus de Castro Lobo e o são-joanense Geraldo Barbosa de Souza. Oportunamente, a apresentação também inclui uma pequena obra do saudoso maestro Adhemar Campos Filho (regente da Lira Ceciliana por mais de quarenta anos), motivada pela proposta lúdica de compor o "minueto que o Capitão Manoel Dias de Oliveira não compôs", à maneira de um testemunho musical da intensa admiração que nutria por ele."

Texto de Aureliano M. Rezende